Centro Pan-Americano de Esportes

Attíla Torres 
Inaugurado em 28 de julho de 2014, o Centro Pan-Americano de Judô (CPJ) era até dezembro de 2018 o maior local de treinamento do judô das Américas e um dos maiores do mundo. Localizado na Praia de Ipitanga, no município baiano de Lauro de Freitas, o CPJ foi a primeira instalação a ficar pronta com recursos do plano Brasil Medalhas, iniciativa que visava à preparação do Brasil para os Jogos Olímpicos Rio 2016.

Os recursos para a construção vieram da União (R$19,8 milhões), do governo estadual por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte – SETRE (R$18,3 milhões). A Confederação Brasileira de Judô (CBJ) despendeu R$5,1 milhões destinados ao projeto executivo, equipamentos e mobiliário. Apesar do orçamento original ser de R$29,2 milhões, na entrega da obra em 2014 ao todo foram investidos R$43,2 milhões. O equipamento esportivo foi objeto de um Termo de Cessão de Uso para a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) assinado pela União e o governo baiano.

Desde o início o local já demonstrava ter capacidade de adaptação para um uso mais eclético, englobando outras modalidades esportivas. Inclusive em 2015 sediou o Campeonato Mundial de Luta Olímpica Júnior. Por tais características que o Gestor Esportivo e especialista em políticas públicas, Áttilla Torres, vem se manifestando para que seja alterado o nome do complexo para “Centro Pan-Americano de Esportes”.

Áttilla Torres já protocolou ofícios junto à SUDESB e também para o Governador da Bahia solicitando seja feita a mudança de nome, bem como a democratização do uso do espaço, ampliação dos benefícios para as Federações realizarem seus campeonatos baianos com custo mais acessível. O uso da estrutura de forma mais eclética, inclusive fomenta a cooperação entre as confederações esportivas.

Paulo Wanderley, que era o presidente da CBJ na época da inauguração do Centro Panamericado de Judô (2014), alegava na ocasião que complexo seria uma referência na América. Quando das obras, os anúncios feitos para a imprensa e público em geral diziam que no local seria instalado um núcleo do “Avança Judô”, projeto social que atenderia a milhares de crianças com idade entre 7 e 14 anos, em alguns estados brasileiros, em parceria com o Ministério do Esporte via Lei de Incentivo ao Esporte.

Inicialmente, o projeto previa que seriam beneficiadas 200 crianças e jovens de escolas públicas de Salvador e Lauro de Freitas, com iniciação na prática do judô, fortalecendo, assim, a formação da cidadania. Hoje em dia existem dois projetos sociais em andamento pela CBJ: o Projeto de Massificação do Judô, que atende 140 crianças e também o Avança Judô, projeto social que visa à inclusão por meio do esporte. Atualmente, o Avança Judô (projeto de projeção nacional) atende 2574 crianças e adolescentes de 07 a 16 anos em núcleos espalhados por 16 estados brasileiros (MG, RR, SP, MS, CE, MT, SC, ES, PE, AP, PI, BA, RS, MA).

Portanto, apesar de estarem sendo atendidas algumas crianças pelos projetos sociais que constam da contrapartida pela cessão do complexo, o potencial de sua abrangência não vem sendo utilizado integralmente. A estrutura é essencial no auxílio da educação infanto-juvenil e de extrema importância no incentivo ao esporte, mas não está sendo utilizada em sua integralidade.

Outra questão é: tendo em conta os valores gastos pelos Governos Federal e Estadual, qual foi o resultado concreto de tal investimento?

Originalmente um dos projetos seria que o complexo seria utilizado tanto para a preparação de judocas para as Olimpíadas Rio/2016 e também formado e fomentado atletas para Tóquio/2020. Porém, a realidade atual do empreendimento é que a sua estrutura e equipamentos estão sucateados, inclusive o ar-condicionado apresenta diversos problemas por falta de manutenção.

Ou seja, além de não utilizar de forma ampla a integralidade do potencial do empreendimento (inclusive na época das Olimpíadas Rio/2016 foi publicado um relatório pela Controladoria Geral da União – CGU – sobre a subutilização do espaço) a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) tampouco estava conseguindo fazer a manutenção do local e dos equipamentos e também demonstrava desinteresse em manter um centro de excelência e alto-rendimento fora do eixo Sul-Sudeste.

Com as obras iniciadas em agosto de 2013 e finalizadas em dezembro de 2014, como parte do programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento, o Centro Pan-Americano de Judô foi anunciado como um centro de excelência do esporte nas Américas. Porém, o relatório da CGU apontou que, mesmo com plenas condições de utilização, existiam deficiências na manutenção do local, com a falta de um plano de manutenção e conservação, e uma subutilização da estrutura.

Assim, em janeiro de 2018 a Superintendência Estadual do Esporte da Bahia (SUDESB) assumiu a gestão do complexo, apenas 41 meses após a sua inauguração (em que pese a concessão para uso e manutenção do local ter sido originalmente de 30 anos). Ou seja, a CBJ conseguiu manter o contrato por apenas pouco mais de 11% do tempo concedido, deixando escapar uma grande oportunidade ao esporte baiano de manter-se em evidência.

O edifício que antes abrigava o alojamento dos atletas e comissões técnicas, além do refeitório, hoje é a sede da SUDESB. Desde o início de 2019 a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) ocupa apenas algumas salas sob as arquibancadas do centro. Os equipamentos estão bastante depredados e muitos dos espaços estão sem condições de uso.

Qualquer investimento público no Esporte precisa ser para todos, principalmente para o esporte amador, independente se olímpico ou não. No caso do Centro Pan-Americano a situação é bastante preocupante, pois a própria entidade responsável pelo Judô no Brasil deixou de providenciar a manutenção do local e acabou perdendo a gestão para uma autarquia estadual. Com isso, perde não só o judô, mas também todas as modalidades esportivas.

Assim, perdendo a gestão do local, a CBJ também deixou de incentivar o fomento das artes marciais na região, optando em estabelecer-se em uma sede alugada no Rio de Janeiro a manter e incentivar o uso por diversas modalidades esportivas de um complexo que foi criado para justamente para fomentar o esporte de alto rendimento em toda região.

Importante destacar que, se acaso ocorra nova concessão para que alguma entidade esportiva venha a assumir o gerenciamento do complexo, que conste de forma bastante clara que o uso do espaço não seja restrito à uma modalidade esportiva ou segmento, mas sim, que seja incentivado o uso das estruturas de forma democrática e que seja efetivamente fomentado o desenvolvimento dos esportes.

Com o uso do complexo por diversas modalidades esportivas a manutenção do local acaba se tornando mais viável, pois os custos se diluem entre as diversas Federações e todos saem ganhando, inclusive o esporte regional. O local já é uma referência mundial, basta melhor utilizá-lo, a começar pela mudança do nome para algo mais adequado ao seu real uso como centro poliesportivo, como sugerido por Áttilla Torres: Centro Pan-Americano de Esportes!!!

 

Áttila Torres

Presidente do Podemos Esporte Bahia, Educador Físico, Gestor Esportivo, Administrador, Grão Mestre em Taekwondo. Condutor da Tocha Olímpica nas Olimpíadas do Rio 2016, Especialização nos Estados Unidos e Coreia do Sul.

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