O eleitor não vota no esporte, por quê?

Por Áttila Torres

Que o esporte tem função importante no desenvolvimento dos cidadãos já é sabido. Tanto no âmbito social, quanto na área da educação, inúmeras são as histórias de superação geradas pela prática esportiva. Dessa forma, fica claro que o incentivo a essa área é importante para uma sociedade se desenvolver de maneira saudável.

Desde o fomento das associações de esporte e cultura até o aperfeiçoamento das leis de incentivo ao esporte, bem como a participação integrada de bancos públicos para o incentivo aos nossos atletas, construção e preservação de áreas de treino, até instituir planejamento público de longo prazo para o esporte brasileiro, com objetivos claros, metas de resultado e monitoramento constante, além do incentivo ao investimento privado no esporte de alto rendimento são as possíveis áreas de atuação dos projetos de gestão pública para incentivar o esporte.

Estas poderiam ser as plataformas políticas dos Atletas e professores de Educação Física que se propõem a entrar no meio político. Mas, o que se vê, na prática, são profissionais que entram na política usando somente a expertise de forma simplista, muitas vezes tão somente focados no seu nicho, sem se preocupar em cuidar do esporte como um todo, integrando as práticas esportivas nas áreas de educação e vendo que o esporte também é um forte agente de integração social.

Nem todo o esportista ou professor de Educação Física tem o perfil político para exercer um cargo público. É importante ter o conhecimento de gestão pública, mas só isso não basta para fortalecer a luta pelos direitos da classe. Enquanto não existir uma bancada esportiva, não vai ser possível ter êxito de projetos, campanhas e planos de governo específicos. Cabe, então, o questionamento: por que os eleitores não abraçam os candidatos que têm o perfil necessário para implementar os projetos necessários para tornar o Esporte algo mais efetivo na vida das pessoas?

Independente de terem qualidades, os candidatos não são escolhidos pelos eleitores. É necessário um representante na Câmara Municipal, só quem vai fazer políticas públicas é quem tenha conhecimento em gestão pública, que enxergue o esporte como elemento de inclusão social e também como essencial na formação plena do indivíduo. A categoria dos esportistas não apoia sequer os colegas que buscam ir além na luta pelos direitos da classe, nem mesmo aqueles que têm conhecimentos além da habilidade esportiva.

O Futebol, o esporte mais popular do País, leva milhares de torcedores aos estádios por semana e gera audiências massivas nos meios de comunicação. Mas, mesmo com toda a sua popularidade, poucos são estes torcedores que votam em candidatos advindos da área esportiva, por mais fã que seja de seu time ou do seu ídolo. Tampouco se vê investimentos em termos de engajamento de projetos públicos em comunidades com real e efetiva preocupação de continuidade e resultados a médio e longo prazo.

Tem-se algumas exceções: O ex-jogador de Futebol Romário, que começou sua carreira política em 2010 como Deputado Federal e desde 2014 é Senador pelo PODEMOS do RJ, sempre teve como plataformas o apoio a crianças portadoras de deficiências – ele tem uma filha, Ivy, com síndrome de Down – e esporte para crianças e jovens pobres. Foi candidato ao Governo do Estado do Rio de Janeiro em 2018, mas obteve pouco mais de 8% dos votos.

Outro exemplo: após a aposentadoria como jogador de futebol, Bebeto fundou, juntamente com Jorginho, o Instituto Bola Para Frente no ano 2000 com o intuito de promover o resgate de meninos e meninas de 6 a 16 anos, em situação de risco social. Foi eleito para o cargo de Deputado Estadual pelo Estado do Rio de Janeiro para a vigência de 2011-2014. Em 2014, foi reeleito para a Legislatura 2015-2019, com 61.549 votos pelo PODEMOS do RJ.

E as artes marciais? E os esportes amadores? E todas as demais atividades que não têm a mesma visibilidade do futebol?

Quanto maior o engajamento, mais favoráveis os resultados do esporte como um agente relevante e capaz de melhorar a sociedade. Porém ainda há um grande percurso a percorrer. Por exemplo, nas eleições presidenciáveis de 2018, apenas 6 dos 13 candidatos tinham algum tipo de projeto na área dos esportes em seu plano de governo.

Nos âmbitos estaduais e municipais o que se tem é uma realidade onde, na grande maioria dos candidatos advindos da área esportiva, poucos são eleitos. Na verdade, nas eleições municipais de 2016, dos 7 candidatos considerados “famosos” na cidade de Salvador (entre personalidades esportivas, músicos e dançarinos), apenas um cantor se elegeu.

Reginaldo Holyfield (DEM da BA) foi candidato a vereador em 2012 e em 2016, porém não se elegeu em nenhuma das ocasiões. Em 2012 ele foi o mais votado entre as celebridades do esporte baiano, com 5.611 votos. Nas eleições de 2016 recebeu apenas 1917 votos.

O ex-boxeador baiano, Acelino Popó Freitas, assumiu como suplente na Câmara em fevereiro de 2011. Porém não se elegeu Deputado Federal na Bahia em 2014, tendo mudado seu domicílio eleitoral para São Paulo e, mesmo assim, não obteve êxito nas urnas em 2018.

Para uma verdadeira diferença poderia ser instituída lei de incentivo ao esporte no sentido de facilitar o aporte financeiro empresarial, sobretudo em projetos de longo prazo, desde o esporte de base até o de alto rendimento. A lógica é pensar o esporte como plataforma para ativações diversas. Desta forma existiria a possibilidade de sair de ações ainda tímidas, por vezes restritas à empresas que procuram o patrocínio apenas para a ações imediatistas, para construir estratégias mais elaboradas e com uma visão mais de futuro, com frutos também a médio e longo prazos. Mas, para uma alteração legislativa, há de se pensar inicialmente em um maior apoio por parte dos eleitores à categoria dos esportistas.

Porém, tudo isso só se tornará possível quando o cidadão tomar a consciência de que, para ter mudanças significativas nos investimentos dos esportes a médio e longo prazo, é necessário que os eleitores se disponham a votar em candidatos dos esportes. Não basta só querer a mudança, tem que ser a mudança.

Áttila Torres

Presidente do Podemos Esporte Bahia, Educador Físico, Gestor Esportivo, Administrador, Grão Mestre em Taekwondo. Condutor da Tocha Olímpica nas Olimpíadas do Rio 2016, Especialização nos Estados Unidos e Coreia do Sul.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *